DOENÇA DE MÉNIÈRE

O que é a Doença de Ménière?

A Doença de Ménière é uma condição rara e crónica do ouvido interno que afeta a audição e o equilíbrio. Afeta cerca de 3-4x mais o género feminino, sendo mais prevalente entre os 35-50 anos. Pessoas com Ménière têm duas vezes mais risco de também terem enxaqueca. Esta doença caracteriza-se por crises recorrentes de surdez, zumbido (acufeno/tinnitus) e sensação de ouvido cheio (plenitude aural), além de episódios de vertigem intensa, com duração entre 20 minutos a 12 horas (podendo ir em casos mais atípicos até às 24 horas). A causa exata da doença não é completamente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada com acumulação de líquido no labirinto do ouvido interno (endolinfa), que afeta a função do sistema vestibular e auditivo.

Causas

A causa exata da Doença de Ménière não é conhecida, mas vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento desta condição, incluindo:

    • Alteração anatómica relacionada com a produção de endolinfa
    • Problemas de circulação/vasculares: Alterações na circulação sanguínea no ouvido interno podem estar associadas à doença.
    • Genética: A predisposição genética pode desempenhar um papel, com a doença às vezes ocorrendo em vários membros da mesma família.
    • Infecções Virais: Infecções virais podem ter um impacto no ouvido interno e contribuir para a condição.
    • Autoimunidade: Algumas teorias sugerem que respostas autoimunes podem danificar o ouvido interno.
  • Alergias

 

Sintomas

Os sintomas da Doença de Ménière podem variar em intensidade e frequência, mas geralmente incluem:

  • Surdez Flutuante: Perda auditiva que pode variar em intensidade, começando frequentemente em um ouvido e, em alguns casos, afetando ambos os ouvidos.
  • Zumbido (Acufeno/Tinnitus): Sensação de som, como um zumbido ou chiadeira, no ouvido afetado.
  • Sensação de Ouvido Cheio (Plenitude Aural): Sensação de pressão ou entupimento no ouvido.
  • Vertigem Intensa: Episódios súbitos e severos de vertigem, que podem durar de minutos a horas e são frequentemente acompanhados de náusea e vómito.

Diagnóstico

O diagnóstico da Doença de Ménière é baseado na história e avaliação clínica e inclui exames complementares de diagnóstico, cujos resultados podem variar conforme a atividade e fase da doença.

    • Audiograma: avalia a parte coclear/auditiva. Caracteristicamente, a doença começa com perda de audição nas frequências mais graves, afetando posteriormente as restantes. Para a certeza diagnóstica é obrigatória a deteção formal de perda auditiva.
  • Impedancimetria: avalia a função do ouvido médio.
  • Videonistagmografia: avalia as vias centrais (neurológicas) e periféricas (otorrinolaringológicas)  responsáveis pela estabilidade visual e equilíbrio.
  • Vídeo head impulse test (vhit): avalia o reflexo vestíbulo ocular a altas frequências
  • Potenciais miogénicos vestibulares evocados: avaliam o funcionamento dos órgãos otolíticos, responsáveis pela sensação de aceleração linear.
  • Electrocogleogragia: vai permitir aferir se há hidropisia, isto é, dilatação do ouvido interno, característica típica desta doença.
  • Exames de imagem.

Tratamento

O tratamento da Doença de Ménière visa aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Para já não há uma cura disponível. As opções incluem:

  • Mudanças na Dieta e no estilo de vida: esta é a base para todos os doentes
    • Dieta com Baixo Teor de Sal: Reduz a retenção de líquidos e pode ajudar a controlar os sintomas.
    • Limitação de Cafeína e Álcool: Pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade dos episódios.
    • Limitação do chocolate e outros açúcares processados
    • Limitação de fast-food e comida rica em conservantes e corantes.
    • Há pacientes que têm triggers alimentares próprios, e devem portanto reconhecê-los e limitá-los. 

 

    • Boa higiene de sono: fundamental
  • Boa gestão stress/ansiedade: fundamental
  • Medicações:
    • Anti-histamínicos e Antivertiginosos: Para controlar os sintomas de vertigem e náusea.
    • Diuréticos: Para reduzir a retenção de líquidos e aliviar a pressão no ouvido interno.
    • Corticosteróides e benzodiazepinas podem ser utilizados por curtos períodos de tempo, particularmente nas crises.

 

  • Reabilitação Vestibular: Exercícios para ajudar a melhorar o equilíbrio e a coordenação, úteis em casos de tontura/instabilidade crónica, fora dos períodos de crise. Está contra-indicada durante as crises.

 

  • Tratamentos Avançados:
    • Injeções de Esteróides: Aplicadas diretamente no ouvido médio, tendo como pressuposto a teoria inflamatória.
    • Injecção de gentamicina: ablação química, com protocolos de baixas doses, em casos graves e mal controlados, apesar de todos os cuidados anteriores.
    • Procedimentos Cirúrgicos: Em casos graves e raros, resistentes ao tratamento mais conservador, procedimentos como a descompressão do saco endolinfático ou a labirintectomia podem ser considerados.

Prevenção

Embora não seja possível prevenir a Doença de Ménière, algumas medidas podem ajudar a gerir os sintomas e melhorar a qualidade de vida destes pacientes:

  • Gerir o stress/sono e a dieta
  • Cumprir o plano terapêutico
  • Acompanhamento Regular: Consultas regulares com um especialista em otorrinolaringologia para monitorar a progressão da doença e ajustar o tratamento conforme necessário.

Conclusão

A Doença de Ménière é uma condição desafiadora que afeta a audição e o equilíbrio, causando episódios de surdez, zumbido e vertigem. Embora a causa exata não seja totalmente compreendida, o tratamento adequado e a gestão dos sintomas podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados. Se acha que pode ter Doença de Ménière, é importante consultar um profissional de saúde habilitado para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado.